segunda-feira, setembro 27, 2004

Um Anjo acorrentado a um Demónio I

Suavemente, com um sorriso, serpenteia com as mais viscosas ondulações, pelos agrestes detritos mundanos. Agressivamente, com algumas lágrimas, flutua com as mais leves e suaves plumas, pelos paraísos utópicos. Como acessório leva a aparente perfeição. Enovela levemente com um fio fraco de suster. É agradável, apetecível e acima de tudo muito confortável. É a fusão do Anjo e o Demónio. É invisível e ninguém o conhece. Quem levanta a possibilidade da sua existência, duvida do seu castelo. Cresce como os outros, mas está impreterivelmente escolhido. No seu reino, encontra-se enlaçado aos mais resistentes suportes. Os instrumentos unem-se formando a sua melodia. Não descansa. As suas barreiras são apenas obstáculos com combinações de segredo, apenas decifradas pela linguagem suprema. O respeito acompanha-o no irrisório domínio do poder. Não ouve vozes, apenas mecanismos de som. Almoça com o calor para poder jantar com o frio. Como Anelante exige olhares fixos inalteráveis. Desviar o olhar é como critica-lo, como ofende-lo, como despreza-lo, como ataca-lo, como feri-lo, como afronta-lo, como silencia-lo, como denuncia-lo, como rouba-lo e como nega-lo tendo como único resultado a isobarização do ar, a isotermia do fogo, a isocorização da água e a adiabatização da terra. É representado pelo tudo, mas, patrocinado pelo nada. A sua cólera afasta quem não o conhece e assusta quem o conhece ou vice-versa. Não há mais nenhum. Surgiu pela divergência. O seu encanto é o mistério. E o seu mistério é a transformação do simples em complicado. A segurança vive com ele mas no modelo turístico. Quem o fez era escultor pois só esses fazem estátuas. Um escultor humilde e dedicado pois prendeu a beleza da obra dentro dela para que quase ninguém a pudesse contemplar. Estranho.

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