quarta-feira, novembro 10, 2004

Hoje

Ainda não amanheceu. Lá fora dormem. O silêncio é apaziguador. O cão dorme, aos pés da cama. E eu, eu penso. Escrevo, olhando um monitor familiar. Perdido. Vida anormal. Desloco o olhar no sentido dos inúmeros relógios que me rodeiam. Estão mortos. Não funcionam. Não há tic-tac. Ninguém se deu ao trabalho de lhes dar corda. São um mero objecto de decoração, perdido e bem longe do mundo de funções que deveriam carregar. Acordei uma hora mais cedo porque me deitei uma hora mais cedo. Os relógios não estão a trabalhar. O monitor é familiar. Vou ter que ir tomar banho e sair para o mundo. O mundo de todos. O mundo onde os relógios, em norma, trabalham. O mundo. Ao contrário de um prisioneiro, espero as correntes que me prendam, que me adaptem a este mundo inóspito. Dizes-me que o que vês não é tão importante como o que sentes. No entanto, sem saberes, o que sentes torna-se condicionado pelo que vês. Vou me esforçando para cada vez mais, darte o que queres ver. Custa. É uma luta com o tempo e é um trabalho que se calhar, não seria eu o escolhido para o fazer. Tenho que forçar as portas. Singir-me ao mundo. Tento construir o que te dá prazer ver. Construir. Há sempre uma razão para tudo. Não existem coisas inexplicáveis. Algumas coisas temos que esperar muito tempo para compreender. Nesse intervalo de tempo reina o desconhecimento. Estou triste. As distâncias esquartejam-me. Preciso de companhia para conseguir estar sozinho. Antítese poderosa. Vens e vais. Vens e vais. Vais e vens. Tu. O meu ego precisa de se elevar à grandeza do teu tamanho. É bem verdade que precisa-mos da luz solar para viver, mas, eu também preciso da imagem das estrelinhas. A tua definição para mim? Hum. És uma pena de pavão albino que cai, rasgando os céus, e que eu soprarei enquanto tiver fôlego, eternamente, para que nunca toque o chão. Receio habituar-me, ou ainda mais, não me habituar ao que me está a chamar... Ajuda-me... Fui.

1 comentário:

Anónimo disse...

O mundo também pode ser teu se quiseres.