quinta-feira, novembro 18, 2004

Que

Que os céus desabem sobre a humanidade. Que a agonia seja a personalidade da existência. Que não reste um único para repovoar os seus. Que o crime seja considerado suave na sua insignificância relativa. Que definhem na mais nobre das putrefacções. Que não reste nada de todos eles. Que as brasas sejam o revestimento do chão. Que o ódio reveze o amor. Que a desgraça seja a palavra de ordem. Que o céu seja encarnado. Que os gritos abafem as melodias. Que os rios corram sangue. Que as telas sejam corpos e os pincéis, ferros em brasa. Que o calor não permita respirar. Que todos os corações entrem em colapso. Que o sofrimento preencha todas as almas. Que os demónios sejam a nossa companhia. Que a água seja fogo. Que a dor seja apenas lancinante. Que o caminhar dê lugar ao rastejar. Que os alimentos sejam veneno. Que as camas sejam armadilhas de dentes metálicos. Que a destruição seja a ordem de estado do geral. Que o papel dos livros seja feito de folha de ortigas. Que não haja distinção de géneros. Que não existam hormonas nem neurónios sensitivos. Que o conformismo tenha regência na calamidade. Que a nossa distância seja infinita. Que não existas. Que não exista.

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