domingo, dezembro 25, 2005

Vagabundo

Muito me irrita aquela secretária inútil que acabei por contratar por ser amiga da minha mulher. Sabe bem o poder que tem, só por se dar bem com ela e como tal, pensa que pode abusar comigo mesmo sendo o patrão dela. Irrita-me de tão fútil. Veio aqui avisar-me que o empreiteiro e os trabalhadores tinham chegado. Sonsa! Conduzi-os à cave do edifício da empresa. É um local só frequentado por mim. Uso-o para guardar alguns dos meus automóveis mais queridos. As obras serão na minha sala de arrumos. É a simples construção de uma parede a meio da sala, a aplicação de um vidro espelhado daqueles que só permitem a visão por um lado, a pintura das paredes, instalação eléctrica e a abertura de um fosso no cerne da sala. Ali os deixei. O elevador sobe, andar por andar, mais desconchavado que o meu Mercedes cinquentenário. Ela tem a coragem de olhar para mim! Que ódio! Um dia… Sim, um dia! Finalmente, descanso uma bela paz na minha desejada poltrona. A voz da minha mulher, ao telemóvel, alegra-me. É como óleo de coco sobre uma queimadura solar. Frase por frase, devota-se à minha existência como se perecidos fossem os homens do mundo. Faz-me pensar como pode aquele entusiasmo perdurar ano após ano. Afinal de contas, ela não sabe que sou sempre eu? Não conhece já ela, tudo o que pretendi que ela soubesse? Como uma adolescente, tenta tentar-me, tentadoramente, com previsões de uma noite ao som da experiência cacofónica da recém-comprada roupa interior. Imagina lá ela o que lhe reservo… Os relógios catapultam os trabalhadores para fora da empresa lembrando-os que é tempo de sentirem fome. Pronto. Creio que já ninguém cá está. Esta porta da minha área é simplesmente deslumbrante. Nunca resisto a conduzir a minha mão por aqueles veios de madeira exótica. Aquela horrorosa ainda aqui está. Aposto que não saiu só para esperar por mim. Desajeitadamente, refere que ainda tem umas coisas para acabar e como tal, tinha ficado mais um bocado mas, que desceria agora comigo e terminaria mais tarde… Pois… Só pode ser uma relação puramente de ódio e amor. Alegremente, move-se para o meu carro do qual eu gentilmente a afasto. Vá para o raio que a parta! Vejo a afastar-se desiludida. Tem um corpo muito agradável. Pena que não entenda que as pessoas só querem o que não podem ter ou, pelo menos, o que lhes custa muito a terem. Rebaixa-se incessantemente em torno da minha arrogância e desprezo. Venerável tanta coragem e força de fazer. A mulher tem a particular questão de desejar determinados parâmetros e de chamar paixão ao encontro deles na sua totalidade ou parcialidade. São parâmetros como a aparência, o poder monetário, a força física, a destreza intelectual, o renovador bom humor, o toque de sensibilidade, o grau de dedicação, a maneira de proceder na vida, a capacidade de proteger ou segurar, a boa esperança de criação familiar ou o simples facto de muitas outras mulheres o desejarem. Dado o actual estado da sociedade, elevaram-se os factores económicos e de bom humor sobre os outros, dado elas precisarem de segurança económica e de animação humorística que funcione como anti-depressivo. Cada uma tem os seus factores predilectos. Cada uma é refinada para uma determinada mistura de desejos em função da sua própria vida. Se um homem lhe conseguir provar que ela é especial e única, como se quisesse fugir à pura realidade de ser apenas uma mulher, ela é muito provável que se entregue, mesmo sem paixão. Racionalmente, a paixão é um seleccionar naturalmente inconsciente. Há algo mais matemático do que a psicologia? Ninguém vê? O homem vê-se obrigado a jogar um jogo que para ele é ainda mais simples. O que precisa ele? Uma boa falta de inteligência, sem dúvida, e seguir todo o jogo de tempos e barreiras de ilusão que todas exigem. O ser humano, basicamente, tem a capacidade de amar seja quem for, só que não o sabe e como tal, cria-se a aparente ilusão de existirem irreais pares de combinação, distinguíveis, entre um mar de vidas. Alguém encontra outro, fortemente poderoso intelectualmente, que consegue violar pensamentos e ideias subconscientes e pronto, já se fala em almas gémeas como se fossem um conceito que algum dia pudesse existir. O amor é a confortável adaptação a uma presença que, preferencialmente, deverá provir da dita paixão de forma a compatibilizar os tempos conjuntos. A pior característica da mulher é gostar de quem lhe prova que gosta dela. Isto não deita por terra toda a surrealidade de magia que elas conotam ao amor? Porque insistem em forçar toda uma fantasia em volta de um acto tão natural? Parece o Natal… Chega de pensar em amor. Se aquele irritante ser, soubesse que despoletou 2 minutos do meu pensamento certamente sorriria a tarde toda. Arranco apressadamente. Ainda tenho que ir almoçar com a minha mulher, Mariana. Ao parar numa passagem para peões, perto de uma escola, vejo raparigas muito novas aproximarem-se do meu raro e valioso veículo. Isto é paixão? É! Vejo-as, todas contentes, pedirem para darem uma voltinha e recuso sabiamente. A minha mulher anda carente. Assustadora a pormenorização dos detalhes que criou em si para me impressionar. Cada bocadinho de si denota esforço e dedicação. Foi um almoço deveras entediante. Pela mesa giraram os mais requintados pratos gastronómicos e os mais sumptuosos objectos do bem servir mas nem isso me entusiasmou. Aprendi uma coisa na vida. Começar uma relação de amor com paixão é um erro gravíssimo. Acaba sempre mal. A paixão tem, impreterivelmente, a função de desaparecer com o tempo e depois, só fica o amor, e a regressão de importância a nível sentimental cria um abismo jamais ultrapassável. Funciona, sem dúvida, muito melhor uma relação onde exista um mero amor criado pelo tempo. Nesse caso os olhos não foram enganados pela paixão. Viram mesmo alguém agradável de se passar tempos conjuntos. Nesses casos é muito raro o desentendimento. E embora ninguém acredite, a magia é muito maior. Podem acusar de não existir fogo numa relação mas, certamente também não existirá incêndio! O difícil não é continuar mas sim começar. Levei a minha mulher a casa onde passará o resto do dia a conhecer partes da casa que certamente ainda não descobriu ao fim destes anos. Voltei ao escritório. Passei pela cave e vi os blocos empilhados a formarem uma parede. Maldita mulher pela qual tenho que passar sempre que entro na minha área. Deitei-me na poltrona e adormeci. Acordei com o toque de saída da fábrica. Sempre adorei ver os trabalhadores saírem desenfreados da empresa, todos contentes, por mais um dia de trabalho ter terminado. Decidi experimentar um licor raro que me ofereceram, feito num mosteiro qualquer da Bélgica. Enchi dois copos. Não foi preciso ter dúvidas sobre se a secretária teria ou não ido embora. Chamei-a. Ela veio. Gentilmente pedi-lhe que se sentasse e ofereci-lhe um copo. Ela espantada questionou-me a razão de tal simpatia. Eu respondi-lhe com a pergunta: “Qual a razão pela qual as mulheres tem que interrogar incessantemente todos os actos dos homens dirigidos a elas?” Será preciso ser um génio para entender que não me apetecia beber sozinho? Será preciso ser desmesuradamente inteligente para entender que me apetecia simplesmente alguém agradável para fazer companhia? Mergulhei um dedo no copo dela e pus-lho na boca. Ela fechou os olhos e chuchou como um bebé a uma chupeta. Eu perguntei-lhe se estava mais interessada no licor ou no meu dedo ao qual ela respondeu orgulhosamente que apenas desejava o licor. Eu perguntei-lhe então, a razão para ter agarrado o meu dedo com a língua durante minutos se o sabor do licor desapareceu logo nos primeiros segundos. Ela corou e em tom de vencida agarrou de novo o dedo e meteu-o na boca. Fechou os olhos… Tirei o dedo… Peguei no meu copo e bebi um gole. Pedi-lhe que tirasse a camisa. “Não queres tirá-la tu?”. “Não!”, foi a minha resposta e ela tirou-a sozinha. O telemóvel tocou. Era o João a convidar para uma partida de bilhar. Ela continuava ali, pseudo-nua, insatisfeita com a demora. Disse-lhe que dentro de uma hora estaria em casa dele e desliguei. Enchi o meu copo. Entornei metade em cada mamilo despoletando-os e ficando hirtos como diamantes. Apressei-me a mastiga-los violentamente ao qual ela respondeu com gritos de perdição. Disse-me que eu sou mau. Mergulhei-lhe a mão pelo corpo abaixo e a sensação foi a mesma de mergulhar a mão na água quente de uma banheira. Ela agarrou-se a mim tentando abrir-me as calças. Afastei-a e afastei-me. “Tenho compromissos!”. Deixei-a e fui para a casa do João. Ali passei duas horas envolto de fumos de charutos e vapores de bebidas em torno de uma mesa vermelho-escuro onde bolas rígidas batiam umas nas outras e mergulhavam por buracos adentro. Hora de ir. Até amanhã. Dei umas voltas pela cidade. Convidei uma prostituta a entrar no carro e falei com ela duas horas. Interroguei-a cirurgicamente. Quis saber tudo sobre a vida dela. Entreguei-lhe meia dúzia de notas e disse-lhe para sair do carro. Ela perguntou-me se eu não ia fazer nada mais do que falar? Respondi-lhe, friamente, que ela não me atraía. Ela olhou para mim surpreendida. Pousou o monte de notas em cima do banco e saiu. Abri o vidro e chamei-a. Disse-lhe para levar o dinheiro pois eu não precisava dele. Ela olhou para mim e para o dinheiro e depois para mim. Baixou os olhos, pegou no dinheiro e afastou-se apressadamente. Entrei em casa. Activei o alarme e disparei-me para a cama. Ela, ensonada, abraçou-me e voltou a adormecer. Adormeci.
Acordei e vi-a olhar para mim fixamente. “Acordaste há muito?” Abanou a cabeça afirmativamente e pediu-me para fazer amor com ela. “Ando a tomar uns medicamentos que não me ajudam”. “Medicamentos para quê?”. “Uns medicamentos que o médico receitou para os ossos ou qualquer coisa do género…”. Abraçou-me entendendo logo a minha desculpa esfarrapada. Subi-a para cima de mim e assim ficou meia hora, deitada em mim. Adormeci. Acordou-me passado um bocado. “Não tens que ir trabalhar?”. “Já sabes que eles esperam por mim…”. Entrei naquela banheira quente e afundei-me. Ela entrou também, passado um bocado, e nadamos um bocado. Saí e ela, secou-me milimetricamente com os lábios. Entrei no edifício. As mesmas caras de sempre. Felicidades. Tristezas. Ódios. Tanta coisa… Ela cumprimentou-me e olhou-me fixamente. Nem liguei e segui em frente. Dediquei algum tempo ao estudo das minhas transacções on-line. Ela entrou logo. Fácil de a entender! Esperava que eu lhe desse atenção para se fazer de fria e independente mas, como optei eu por esse papel, só lhe restou o de necessitada e carente. “Precisa de alguma coisa?” “Não. Pode sair. Obrigado.” E lá foi ela, pior que uma víbora. Hoje é quinta-feira. Pedi para receber os meus seguranças de confiança, Ferreira e Alvim. Falei com eles, falei e falei. Embora espantados com o que lhes pedi, não mo recusaram. Sei que fariam quase qualquer coisa que lhes pedisse. Abri a garrafa do licor, enchi um copo e coloquei-a em cima da mesa. Sentei-me e chamei aquela parva. Ela entrou e o seu olhar disparou logo directo à garrafa. Pedi-lhe para não se esquecer de ligar a todos os clientes a desejar um bom natal. Ela perguntou se eu não precisava mesmo de mais nada. E investiu contra todos os meus “Não. Obrigado.”. Saiu estarrecida e desiludida. E o dia passou e passou. Duas, três, quatro, cinco e seis horas. Despedi-me de toda a gente e entreguei uma libra de ouro a cada empregado de prenda de natal. Como sempre, a empresa vazia com apenas quatro trabalhadores. Os dois seguranças permanentes, eu e a maldita secretária. Chamei-a. Perguntei-lhe o que tinha planeado para a noite de consoada. Perguntei-lhe se era capaz de realizar uma loucura. Os olhos dela brilharam. Pediu-me para dizer qual a loucura embora, na sua cabeça, já se adiantassem dezenas de ideias possíveis. E eu assim contei. Saí e deixei-a ali. Hoje é dia vinte e quatro de Dezembro e tenho a família toda à espera para a ceia de natal. Entrei e o calor e o aroma festivo invadiram-me. Interessante… Sobrinhos rodearam-me histéricos e possuídos por energias de fonte indefinida. Apeteceu-me dar um beijo na minha mulher e eu não sou de conter desejos nem vontades. Ela ficou surpresa pela intensidade da saudação. Cumprimentei um por um. A casa estava completamente decorada. Passou, certamente, o dia todo com as amigas a decorar e a cozinhar. Sentei-me. Comi. Convivi. Duas da manhã. Os putos já dormem espalhados pelo chão, rodeados de bocados de papéis e caixas. As mulheres, reunidas na cozinha, enquanto lavam e arrumam, falam alto e discutem prendas e defeitos matrimoniais. Os homens encaixados nas poltronas, divertem-se com os queijos, enchidos, fumados, charutos e bebidas pesadas. Quatro da manhã. Casa vazia. Restamos os dois. Ela está a tomar o seu banho de fim de dia. Faço uma chamada. Ela sai com o roupão desamarrado. Sim, definitivamente anda carente. Também, os dias de jejum, amontoam-se pelo calendário. Como sempre, esperei a sua lenta chegada até mim. O olhar dela torna-se fixo e forte. Não preciso dizer qual o alvo… Começa com um jogo de dominância mas o objectivo dela é mesmo ser dominada mas, usa aquele início para me estimular. Hoje sim. Hoje entro na brincadeira. Puxo-a desajeitadamente contra mim e ela solta um gemido de gosto. Aperto-a contra a parede para ela sentir a parede gelada no corpo nu. Ela riposta ao choque térmico inicial. Viro-a e empurro-a de novo mas desta vez para sentir o frio nas costas. Empurro-a com todo o meu corpo. Ela atira-se contra mim tentando soltar-se. Ao perguntar-lhe se quer que a solte ela responde que não e eu pergunto qual a razão para tentar soltar-se se na verdade, pretende estar presa. Ela sorrindo responde com a pergunta: “Não é suposto ser a tua presa?”. Em silêncio, sento-a na cama, gentilmente. Do bolso, tiro um lenço de seda negra e perfumado. Vendo-a fortemente. Ficou deliciada e mais ainda quando referi que hoje era diferente. “Espera por mim. Não te mexas nem saias daí!”. Desci vagarosamente, como um anfitrião, as longas escadas. Abri a porta. Dei as indicações necessárias àquela maldita secretária. Entramos no quarto. Ela em silêncio despiu-se. Abraçou a minha mulher e ela assustou-se logo ao sentir os longos cabelos e os peitos voluptuosos. “Que é isto?”. “É a tua prenda de Natal querida!”. A Marta sentou-se ao lado dela enquanto ela pensou e pensou até que me perguntou: “É a minha prenda de natal ou a tua?”. “É a tua.” Respondi firmemente. A Marta olhou para mim e avançou. Beijou-a muito medrosamente. A minha mulher aceitou receosa. O seguimento das fricções corporais, sossegaram as suas inseguranças. Devagarinho esfregaram-se rodando na cama. Era a primeira experiência feminina de ambas. Saborearam-se lentamente perante o meu olhar atento. A minha mulher, cegamente, usufruía daquele corpo e parecia gostar. Por uns momentos, gostou tanto que creio que se esqueceu mesmo que eu ainda ali estava. Quando se lembrou, perguntou se eu ia demorar muito a ir e eu fui… A interesseira Marta, rapidamente, procurou o seu verdadeiro objectivo naquele jogo. Arrancou-me as calças fora e, euforicamente, abocanhou-me numa ânsia tão desesperada que até me fez tremer. Sugou-me como se nunca o tivesse feito. A minha mulher apercebeu-se da situação e foi à luta. Durante minutos milenares competiram sofregamente por mim. Cada uma na sua vez obedeciam às ordem hormonais. Ambas estavam muito extasiadas. A Marta por ser eu e a minha esposa pela novidade da situação. Afastei-as um bocado para não terminarem tão cedo com aquele belo momento. Exibicionistas lutaram uma com a outra vendo qual causaria mais prazer de modo a descontrolar a adversária. Erro crasso… Ultrapassaram os limites e ambas se tornaram demasiadamente frágeis. Sons estranhos bailavam naquela atmosfera bizarra. A minha mulher era a mais predadora. Procurava com os dedos as pontas mais sensíveis daquele corpo. A Marta imitava-a em tudo e tentava ainda com mais intensidade. Estava claramente a exibir-se para mim. É a minha vez. A Marta, obedientemente, não falava para não revelar a sua identidade. Coloquei-as a par. A minha esposa perguntou “Sabes quem é ela e se é de confiança?” Sem responder iniciei o acto dedicando tempo a cada uma, tentando não ser injusto. Nenhuma queria esperar. Maldita incapacidade feminina de partilha. De repente algo mudou. A Mariana, minha esposa, enquanto consumia concupiscente a Marta, agarrou-se a ela beijando-a indecentemente. Pela primeira vez estava realmente a usufruir puramente daquele corpo. Deixou de a ver como uma concorrente e apercebeu-se que ela era um mero objecto de prazer na nossa relação, como tal, baixou a espada e entregou-se. Deixou-a fruir de mim enquanto a acariciava. A Marta, coitadinha, estava explosivamente feliz. Está na hora… Não sei bem o que fazer mas também o tempo já não é muito. Não precisei decidir-me. A Marta avançou e a Mariana não quis ficar atrás. Eu sei que a Mariana fez um sacrifício pois não faz, mesmo, nada parte dos gostos dela. A Marta, por outro lado, estava completamente à-vontade e entornou-se num encanto desmedido. Vertida e escorrida fervente, saiu a correr do quarto. A minha mulher estava deitada, exausta e esbaforida. Retirei-lhe a venda e com o lençol limpei-a carinhosamente e beijei-a. Ela olhava para mim em pânico enquanto se sentava. “Era uma prostituta?” pergunta ela. Sorrindo saio do quarto e empurro a sua melhor amiga, corada e na situação mais vergonhosa da sua vida, porta a dentro. A Mariana abriu tanto a boca que receei que a sua mandíbula se ejectasse do resto do corpo. A Marta abraçou a minha convalescente e silenciosa mulher. Desci, deixando-as conversarem sobre o assunto. Vi a Marta descer vestida passado uma hora. Despediu-se e saiu apressadamente. Subi e encontrei a minha mulher na cama. Deitei-me e adormeci caladinho naquela noite de Natal.
Acordei sozinho na cama. Fui meio ensonado e de cuecas até ao início das escadas onde a minha sobrinha ao ver-me desata a fugir a gritar. Surpreendido, lembro-me que é Natal e corro para dentro do quarto. Vesti-me e desci e já andava a casa invadida por caras familiares. A minha mãe diz-me que serei sempre o mesmo dorminhoco. Procuro rapidamente a Mariana. Preciso de ver a cara dela. Encontro-a de volta dos pratos, atarefada. Felizmente vejo que ela está feliz. Ao menos isso… Nem sempre é bom sinal… Almoçamos e fomos até ao café. A tarde passa invariavelmente. Hora da despedida, abraços, beijos, recomendações de última hora, conselhos impensáveis… Enfim, na Páscoa há mais… Segunda-feira e voltou tudo ao normal… As obras estão prontas finalmente. Sim, tudo está conforme o desejado. Mil setecentos e oitenta contos. Uma grande parte foi para despesas de transporte dado eles serem de tão longe. Tinham obrigatoriamente que ser. Não foi caro. A Marta anda sempre em cima de mim como se agora fossemos uma espécie de amantes permanentes. Não consegue entender que foi uma brincadeira de prazer que não se tornará a repetir. A Mariana ainda não fala comigo normalmente. Não sei bem o que isso quererá dizer. Terça-feira. Não me apeteceu trabalhar e fui passear até aos centros comerciais ver como correm lá os meus negócios. Ela foi comigo. Já voltou à normalidade. Já fala de novo imenso. Parece mais forte do que nunca. Está ainda mais apaixonada. Não entendi… De noite queria festa mas eu aleguei tremendo cansaço. Quarta-feira fui falar com a prostituta e pedi-lhe um favor. Um favor complicado mas aliciante para as pessoas que o vão concretizar. Preciso de três vagabundos desabrigados que não tenham ninguém. Dado tamanho económico envolvido, ela mal conseguiu respirar acertadamente. Na quinta-feira, levei-os aos meus médicos para uma análise extensiva. Todos os mais sofisticados e caros exames foram realizados para completo espanto dos médicos. No fim foi-lhes apenas exigido silêncio absoluto e assim será porque eles sabem bem quem sou e o que represento. Estão limpos… Encarreguei seis pessoas de confiança de os vigiarem vinte e quatro horas por dia. Sexta-feira fui com a minha mulher ao centro mais movimentado da cidade. O costume: jóias, perfumes, roupas, carteiras, sapatos… Lá fomos saindo para o retorno a casa. A saída estava completamente apinhada de gente. De repente algo me chama a atenção e ao resto das pessoas. Uma carrinha negra segue pelos passeios a alta velocidade. Ouço: “É louco!”. Trava mesmo à minha frente e sem que eu tenha sequer tempo para me aperceber saem dois homens fortes e encapuzados e arrancam-me da beira a minha mulher. Corro atrás da carrinha que arrancou agressivamente. Os meus seguranças fazem alguns disparos sem qualquer resultado. Em pânico, rodopio impotente. Avisto três carros de polícia em algumas dezenas de segundos. Dois deles seguem em frente a alta velocidade e um pára. Interrogaram-me e ao resto das pessoas sobre tudo. A carrinha não tinha matrícula e era de uma marca completamente desconhecida. Parecia uma carrinha de fabrico próprio. Completamente reforçada como se fosse um daqueles carros blindados de transporte de valores. Escusado será dizer que passei a tarde na esquadra num pranto de lágrimas. Levaram-me a casa e deram-me três soníferos. Dia trinta e um de Dezembro. Ultimo dia do ano! Acordo sozinho a meio do dia. Olho em minha volta na esperança de encontrar uma prova de que tudo não passou de um sonho. Nada. Apenas vazio. Espreito pela janela e vejo dezenas de pessoas, provavelmente da imprensa, à porta. Ao verem um simples mover de cortinados, disparam dezenas de flashes na minha direcção. Desci e dei ordem de silêncio absoluto a todos os empregados e seguranças e dispensei-os por uns dias. Vi-os a saírem circundados por um anel de gente. Não pararam. As horas passam. A noite aproxima-se. Está a acabar o ano. As pessoas não desenredam o caminho. Entro no meu abrigo subterrâneo e saio pela saída secreta. Antes coloquei uma toalha em volta do pescoço por baixo do casaco, um gorro e uns óculos. Dirigi-me à traseira da empresa. Entrei e desci à cave. Lá me esperavam o Ferreira e o Alvim com o gradeamento frontal da carrinha todo amassado. Disseram-me que tiveram que albarroar um carro policial pelo caminho mas que tudo tinha corrido mais ou menos como o previsto. Pedi-lhe que subissem e montassem guarda no rés-do-chão. Assim o fizeram. Bloqueei o andar subterrâneo secreto do edifício. Ali estava a minha mulher. Deitada e inconsciente em cima da mesa central da sala, imensamente iluminada. Estava bem, tal como ordenei. Soltei da carrinha os três badalhocos da rua. Um muito velho e outro deles de raça negra. Odeio pretos. Olhei para ele, intimidando-o. Cheiravam pior que os porcos do curral da minha sogra. Estavam todos borrados e com roupas de maltrapilhos. Entramos na sala. Bloqueei a porta. Ali os deixei. Passei para a segunda sala e bloqueei também a porta com o código. Sentei-me na minha confortável poltrona. Este vidro espelhado inquebrável é fenomenal. Vê-se tudo perfeitamente. Ali esperei sentado. Vi-os andarem pela sala, olharem para a minha mulher fascinados pela sua beleza e elegância. Horas passam. Eles começam a ficar impacientes. Tocam-lhe e tentam acordá-la forçadamente. Levantei-me e bati três vezes no vidro. Pararam imediatamente. O tempo continuou. Ela começa a acordar. Eles fixam a sua atenção nela. Ela põe a mão na cabeça, ainda não vendo nada, e olhou para aqueles estranhos todos com mau aspecto. Tentou de imediato fugir. Eles não a tentaram deter. Para onde fugiria ela? Escondeu-se atrás dos bidões… Foram buscá-la e arrancaram-lhe todas as roupas. Vejo-a e sinto-a chorar perdidamente. Trouxeram-na para a mesa pelos cabelos e ali a deitaram. Desapertei um botão das calças. Outro, outro e mais outro. A potência que resvalava daquele cenário era imensa. Mal me conseguia conter. Comecei devagarinho a manipular-me. O ritmo era lento, mas mesmo muito lento. Era obrigatório para a contenção. O preto aproxima-se da boca dela para a beijar. Furioso, corro até ao vidro quase tropeçando nas calças e dou três murros enormes e ele parou logo. Que nervos!!! Dei-lhes ordens expressas para que não a beijassem na boca. Proferi, baixinho, meia dúzia de insultos para o inferior ser e sentei-me novamente irritado. O preto era sem dúvida o mais abusador. Os outros estavam um bocado em choque com a violação. Ele foi força-la a sexo oral e ela trincou-o. Ele arrancou-se logo dali e veio para trás apressadamente condolente em dores. Não consegui deixar de sorrir com aquela situação. Ele veio a correr ter com ela e deu-lhe uma grande pancada na cabeça. Baixei os olhos. Ela começou com convulsões de vómitos. O velho decidiu entrar em acção e penetrou-a enquanto os outros lhe seguravam os braços. Ela gritava enraivecida com a sua inferioridade de força física. Ele agarrou-se a ela. Certamente nenhum deles faria sexo há muito tempo. Aliás, o tempo passado desde a última vez de certeza que seriam anos. Teve um orgasmo quase imediato dentro dela e afastou-se para ajudar a segurar. Ela agora já não lutava contra eles. Desistiu e entregou-se pois, não podia fazer nada em contrário. Levantei-me, por momentos, deixando a masturbação e enchi o ambiente com um “Nocturne for Piano No 9” de Chopin. O outro branco atirou-se a ela ansiosamente. O preto tratava-a mal. Não tinha qualquer sensibilidade. Para ele, ela era um mero objecto de prazer. Não se conseguia aperceber sequer da magia daquela macabra situação. E pronto. Ali estava eu a ver a minha esposa ser violada por minha ordem por três homens da rua, imundos e fedorentos, sem qualquer tipo de protecção. Pior que tudo estava invulgarmente excitado com tudo aquilo. Tinha que parar imensas vezes para não ter um orgasmo fortíssimo. Fervia por todo o lado. O preto agarrou-se a ela e deitou-se no chão com ela. Empurrou-a para cima dele e encaixou-a nele. Abismado, vi o gajo mais novo cobri-la, simultaneamente, por cima. Levantei-me e aproximei-me para ver melhor tudo aquilo. Estava incrédulo. Eles associaram-se? Como pode. Via-se que ela lutava contra si própria para não gritar e não demonstrar prazer mas, não conseguia. São leis naturais que não podia contornar. Desesperada gemia como uma velha carruagem a passar nas florestas medievais puxada por cavalos a alta velocidade. Não lhes tinha dito para fazerem nada disto mas, não deixou de ser uma agradável surpresa. Não consegui aguentar e tive um orgasmo mesmo sem sequer me tocar. Nunca tal tinha acontecido. Estava exausto. Limpei-me enquanto via todo aquele espectáculo encerrar com a sua humilhação. Pior que tudo, ela por fim fez sexo oral aos dois sem os morder. Aceitou a situação e viu-se envolta por fluidos daqueles malditos estranhos. Limpei-me, guardei-me e sentei-me de novo. Estava furioso. Acalmei-me. Ela no chão a chorar. Eles satisfeitos da vida, a um canto, à minha espera. Agressivamente liguei o distorcedor de voz e o altifalante e perguntei: “Não se estão a esquecer de nada?”. Surpreendidos pela voz robótica apressaram-se a irem ao canto buscar o algodão com o clorofórmio e fazerem-na perder os sentidos. Ali ficou inconsciente. Esperei meia hora. Eles sentaram-se pela demora ser longa. Suspirei e introduzi o código no mecanismo da porta. Saí com a minha Steyr-AUG em punho e descarreguei dois tiros em cada branco e as dezenas restantes de balas na cabeça do preto até ficar irreconhecível. Guardei a arma e as luvas que tinha colocado para não ser detectada pólvora nas minhas mãos. Empurrei os três corpos para o fosso. Esvaziei os bidões cheios de terra por cima deles para não criarem cheiros. Fechei e subi ao rés-do-chão. Como sempre lá estavam os meus dois melhores homens vigilantes. Pedi-lhes que acabassem o serviço. Desceram comigo e levaram-na num carro com número de série retirado e sem matrículas para a deixarem viva num monte ali perto. É o primeiro dia do ano. Deixaram-na a um canto da estrada, tal como pedi, sem qualquer marca possível de identificação. Deixei as roupas no subterrâneo e subi, lavei-me e desinfectei-me. Entrei pelo esconderijo da casa. Ouvi imenso barulho junto à porta. Abri-a e estavam vários polícias há severas horas a tentarem arrombar a minha porta de máxima segurança fabricada num polímero de alta resistência. Como ninguém respondia na casa, julgaram que me tivesse acontecido alguma coisa. Desculpei-me dizendo que estava a dormir pois tinha tomado uma dose muito forte de soníferos. Entraram para me tentarem consolar até que chega finalmente a notícia de terem encontrado a minha mulher e que estava sã e salva. A minha alegria e exaltação foram comovedoras. Dirigi-me a alta velocidade para o local escoltado por forças policiais. Lá estavam já vários carros. Abracei-a e chorei de alegria por a voltar a encontrar viva. Lágrimas escorregavam-lhe pela face como pinguins a patinar num lago de gelo. Foi de imediato para o hospital para tratarem dela e realizarem todos os testes necessários e interrogatórios. Vi-a a adormecer e saí para caminhar pelo parque do hospital. Os anos passaram. Vivemos muito felizes. Nunca ninguém desvendou o plano. Quem o sabe, guardou-o para sempre. Foi uma brincadeira valiosa. Custou quatro vidas, uma delas de um polícia, morto no albarroamento, e muitos, mas muitos, milhares de euros gastos. Se valeu a pena? Sim. Indubitavelmente sim!

4 comentários:

Anónimo disse...

prometo lê-lo assim que possa... já dei uma vista de olhos, mas não me consigo concentrar, parece que as palavras me passam em frente aos olhos, mas na verdade leio um dialécto que não entendo, limito-me a dar-lhe ares de texto, a tentar fazer com que as palavras façam sentido para mim, leio e releio a mesma frase vezes sem conta na esperança de entender tudo o que não consegui ler até meio do texto... As palavras ganham vida e acabo a sorrir com a doce dança delas em frente aos meus olhos rasos de água pelo esforço da tentativa de concentração... Mais uma vez imprimirei este novo post, após ter sido lido e compreendido como merece será junto aos outros todos... Um dia farei um livro teu... mesmo que recuses...

Anónimo disse...

Já há muito que não lia os teus textos. Decidi matar as saudades e fiquei viciada neste texto. Está bem mais solto, mais tu em cada palavra. A história tem tanto de macabro como de explêndido. É um dom único a tua escrita.
Como usas tanta sensualidade no que escreves, acho que vais gostar dos poemas de uma poetisa que adoro. Deixo-te um bocadinho dela e se gostares, dir-te-ei onde podes encontrar os seus poemas.

...E o meu corpo
sabe ao teu,
ainda que
incógnito em mim.
Luas perdidas,
escancarados sóis,
estrelas caídas,
suores e vigílias.
Meu corpo sabe
das dobras do dia,
das sobras de sonhos,
das curvas da noite
em que te escondias.
Das frestas
do teu olhar insone,
tuas senhas e segredos,
teus vestígios
no meu dia.
Carícias sussurradas,
palavras proibidas.
Eu me adivinho
entre sustos,
no sobressalto das horas
em que me despertenço
e passo a ser
somente tua.
Um caminho sem volta,
nessa imensidade
de caminhar
sem rumo.

Lindo não é?
Bom ano para ti...

Anónimo disse...

Estou completamente sem palavras. Li-o até ao fim.

Magnifico, soberbo?

não tenho mesmo palavras

Parabéns. Consegues supreender me cada vez mais!

Lúcia

Anónimo disse...

MUITO SONHAS TU,é natural já que nenhuma mulher se aproxima de ti sendo como és! ESQUIZOFRENICO, GORDO,PORCO E FEIO! Claro que os esquizos têm a mania que são genios, é o teu caso! mas as borradas "pomposas"que escreves não servem nem pra limpar o cu de um vagabundo. Acorda puto, e poe-te no teu lugar. És invejoso, maldoso, atrasado mental, nojento, insignificante, e BÁSICO!
Acho é piada nos comentarios, são escritos por ti não???
JÁ AGORA GENIOZINHO, ACHAS QUE AS PESSOAS SÃO BURRAS? ÉS TÃO GENIO QUE DEIXAS PISTAS POR TODO O LADO! BURRO!