segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Excesso

Início inicial. Primeiro início. Não deixa de ser aprazível acompanhar de perto a tua evolução. Mais do que companhia se calhar dei-te um nome de direito. O olhar foge-me para os condenados, em tempo, familiares, blocos de vidro. Reflectem a luz colorida da telenovela da televisão de sempre. Sim, isto está mais vazio. Todos estes armários de vidro recolhem simples pó. A descoberta de terra nova sempre enrodilhou dúvida e receio. Os passos foram premedidos. Sim, sempre fui exigente e metálico. Rígido, inflexível e acima de tudo brilhante. Fazem aqui falta as belas fantasias de outrora. Só posso dar o que tenho. Considero que cresci. Mas não sei se tenho a razão. Acho que cresci mas, não tenho bem a certeza. Sei que vivi. Na realidade a vida melhorou um bocado mas, está difícil. Os mundos andam agressivos e eu também. Não sei se é uma luta desigual mas sei que o texto é entediante. Não vai dizer nada. Destina-se a guardar não sei bem o quê. Acho que a esta incógnita de valores se costuma chamar arte. O telemóvel não vibra. O telefone não emite a cacofónica sinfonia habitual por vezes confundida com o refrão de alguma letra popular mais comum. O cigarro está quase a terminar. Não fumo? Mas eu disse que entrava? Ou entro e só estou a baralhar tudo? Que importa? O cigarro está quase a terminar. O bafo quente da erva apapelada chama o frio renovador do ar da janela. Ainda me lembro do dia em que inocentemente lhe partiste o manípulo. Primeiro fim.
Segundo início. As emoções de tão estagnadas parecem enrolar-se num turbilhão cada vez mais complicado de segurar. Não sei bem o que queres mas, a tua fuga vencida à linha equatorial, entrou em regressão. Estou deveras preocupado mas, acho que ainda não deste conta de nada. Se calhar nem seria caso para isso. Sei que estás a pisar território íngreme. Também será disso. Mas está complicado, a sério que está. Até a escrita... Até a escrita reflecte a pressão esmagadora que ando a combater. Tu não tiveste culpa e se calhar eu tenho. Uma mistura, uma grande mistura de tudo. Uma perdição sem achar. Uma contaminação de frases pequenas. O passado é que segura tudo. Mas o futuro… O futuro é tão pecaminoso… E o presente? Absolutamente instável? Fogo! Tinha que ser agora? Tinha? Mas quem dirige esta porcaria toda? Quem escolhe os momentos de acção? Pode considerar-se despedido e com ordem paga de assassínio. Que nunca me apareça à frente! Estou desagradavelmente calmo e tão preocupado! Eu nem sei o que escrever. Estou cercado. Só me apetece gritar e no entanto esta escrita é muda. Isto está um caos. Ninguém entende. Sou eu que estou aqui. Que maldita pressão. Não consigo mudar de assunto. Sim! Loucura sim! Mas uma realidade assustadora. Eu não uso fins-de-semana, pontes ou ainda feriados. Uma sede de fim. Nunca ninguém deve querer tanto. Isto é uma doença. Enveredar pelo caminho vermelho? E os encontros? Vou vencer todas as batalhas? Vou encostar? E se encostar vou aguentar? E depois? E depois terá lógica pensar no passado? É isso que devo fazer? Dúvidas na minha mente? Estamos no fim do mundo! Mas, mas... Lá fora está tudo tão calmo… Aquelas suaves e enérgicas andorinhas rodopiam e rodopiam em torno das cabeças dos prédios e tornam e tornam e tornam a rodopiar. Será que elas estão preocupadas com este cataclismo? Lá em baixo a velha ameixoeira com o medo ainda nem expôs rebentos. E o maldito lago? Para quê que o homem o cobre sempre? Incomodam-lhe pétalas e folhas na água? Está listado. Tinha que desabafar nestes tons de loucura. Isto não é escrita. Isto não é escrita. São controlos isobáricos impulsivos. Inspirar. Expirar. Inspirar. Expirar. Calma. Calma que isto tudo se resolve. Mas resolve-se para quê? Qual o lucro de tanto esforço? Olha estúpido, olha para toda aquela alcalinidade de ser, lá em baixo. E eles também existem! Eles também sorriem e andam pela rua. E estão como tu? Mas este foi o caminho que eu escolhi. Para quê que o escolhes-te? Eu acredito que no futuro ainda vais mudar de opinião e nessa altura eu vou-te esmagar como uma noz entalada num quebra-nozes. É este o teu destino. Palavra do senhor. Segundo fim.
Terceiro início. Esta mesa fria de mármore. Só ela me sabe amparar os braços. A tua dedicação foi tão forte. Pior que tudo, só tu me soubeste amar. História após história, aparecem na minha mente. Ai ai. Ninguém. Não há ninguém como tu. Mas, mas… Eu lutei toda a vida para te ter e agora empenho-te? Em troca de quê? De nada? Um valor como tu. Se calhar o que me preocupa é seres um valor impeditivo de outros valores. Mas esses valores são incertos. Vou mergulhar outra vez em areias desconhecidas? Que raio fazes? Seria normal quereres um fim. Então que esperas? É que estás a confundir-me. Não estou habituado a ser eu a levantá-lo. E eu não o vou fazer. Não o vou fazer porque a vontade é muita e isso revela a asneira certa. Já viste o tempo que durou? E o tempo que vai durar? Isto não deveria ser alegria? Maldita distância anda-me a deixar ainda mais louco. Logo, sim logo, ou não. E eles? Eu sei que eles todos vão estar lá e eu não quero. Mas eu vou. Eu vou. Não há ninguém tão forte quanto eu. Calma. Recupera. Calma. Força. Lindo. Aguenta. Sim. Tu consegues. Conseguiste. Parabéns. Terceiro fim.
Quarto início. Li o texto do início ao fim. Estou aterradoramente assustado. Vou ter receio em ler comentários. Quarto fim. Fim final.

1 comentário:

Anónimo disse...

Completamente desnexado mas com uma escrita brilhante.

Um beijo ;)