terça-feira, março 29, 2005

Exórdio

Acordo com a sensação que vai ser um bom dia. Sinto o peso do rechonchudo cão a meus pés. Sim, vai ser um bom dia. No espelho está um rapaz confiante e com o cabelo de acordar. Sempre me fascinou aquele cabelo de acordar. Seria parecido com um redemoinho em águas, terramoto em terras ou um belo tornado em ares? É apenas um cabelo despenteado. O grau de entropia revela-me a intensidade da noite passada. Num ápice o pijama é atirado para cima da cama. O cão observa-me atento. Na sua cabeça intriga-se uma possível saída. O meu peito brilha com o reflexo de luz refractado pelo espelho. Pequeno espelho. Não me deixa ver todo. No meu quarto próprio terei um bem maior e bem mais requintado e ele, já existe. Em cuecas, sento-me e ligo o monitor do eternamente ligado computador. Três pessoas contactaram-me enquanto dormia. Organizo os arquivos recebidos. Dedico algum tempo ao e-mail. É o meu trabalho. Deixo a gravar o CD com algumas músicas que seleccionei ontem. Esfrego os olhos e a testa. Abano a cabeça e destroço o cabelo. Perto do belo candeeiro antigo um verde marcador desperta-me a atenção. Banho. Vagarosamente, percorro a toalha por meu corpo, vigorosamente. Lentamente, o bocado de tecido vai absorvendo e retendo o líquido que pendia e tendia em meu corpo. Estou gelado. Pego no marcador e um recado, a verde, te escrevo, perto de cada mamilo. Não referiste que gostavas de jogos psicológicos? Bem-vinda ao meu mundo! Acredito que a tua curiosidade seja suficiente para despertar a tua ousadia. A chuva intensifica o castanho da terra. As plantas vingam aceleradamente ao passo da crescente turgescência das suas células. Visto-me e saio perfumado. O carro segue a sua rota, cauteloso, pelo piso molhado. Quilómetros passam. Até agora a rota era familiar. A partir de agora a rota não é familiar. A atenção redobra. Placas informativas são lidas preocupadamente. Ao centro cheguei e agora, vou seguindo as pequenas pistas que me deste, com a ajuda de habitantes locais. Por fim avisto-te ao longe. Ainda não me viste. Estaciono o carro. Saio. Dirijo-me a ti. Já me viste. Diriges-te a mim. A minha marca mostra-se. Um abraço substituindo dois beijos surpreende-te. Um abraço diferente. Um abraço extraordinariamente firme, seguro e envolvente. Um abraço especial que só poucos podem dar. Sim. Um abraço, lento e excitante, amarra-te a mim por tempo indefinido. Um tempo realmente indefinido. Nos teus olhos surgem as primeiras impressões percepcionais sobre a minha presença. Engoles ligeiramente em seco. Imagem portentosa. Nos teus canais ópticos travam-se violentas guerras. Venceu a razão. Felizmente. Inauguras um diálogo bem nutrido. Com um arrojado braço a reforçar as tuas costas, segues a meu lado em direcção ao carro. “Onde vamos? Não sei. Não sabes? Então, tu é que conheces a zona! Vamos até um sítio qualquer sossegado e bonito.” O carro move-se anormalmente lento pelas ruas. O carro respeita estranhamente as distâncias de segurança. Melancólico, como se estivesse a chamar um sol que teimava em não aparecer para o secar. Sorrisos, olhares e palavras. Uma boa adaptação e integração. Um parque com árvores estaciona à nossa frente. O som do puxar do travão de mão garante o cessar da deslocação. Viramo-nos um para o outro. Conversas despoletam outras conversas. Meia hora passa. A chuva teima em reter-nos fechados. Perguntas-te “Queres passar para trás? Para estarmos mais pertinho um do outro?” e eu aceito, acenando com a cabeça. O mais depressa que conseguimos, saímos e entramos atrás. A chuva era bem grossa. Sorrimos um para o outro. Tirei o pesado casaco castanho, mostrando uma camisola fina verde tropa semi-molhada pela chuva. Encostamo-nos o mais que pudemos e abraçamo-nos. Os teus olhos brilhavam preocupados. Não era esta a face a que estavas habituada quando estavas abraçada a um rapaz. Perguntas-te se te queria beijar. Um olhar fixo cada vez mais perto impregna as nossas almas. Os lábios tocaram-se devagarinho e de repente, numa explosão de energia, devoramo-nos com sofreguidão. Intervalo para respirar, ufa! No meio de risos felizes perguntamo-nos mutuamente se tínhamos gostado. Devagarinho, ambicioso, sigo para nova explosão de sabor. Leves ondas transparentes de saliva brilham em torno de nossas bocas. Afundamo-nos pelos bancos abaixo e exploramos, perdidamente, territórios bucais recém-descobertos. A comoção era serena mas imparável. Um bocado mais calmos, recomeçamos a falar. A minha mão, hipersensível, começa a viajar numa longa jornada pelo teu corpo e, para meu espanto, a tua resolve também revolver as cinzas que formam o meu corpo. Por baixo da tua camisola, deslizo agora pela tua pele directa. Um mar vermelho submerge nas tuas faces. O ambiente aquece, sentados agora no chão do carro. Completamente loucos, tocámos partes intimas sem as ver. Só hoje me apercebo o quão desconfortável pode ser um carro por maior que seja. Eroticamente, aproximas a tua mão do nariz apreciando o meu aroma. Com grande indiferença soltas um “é bom”. Com grande divertimento devolvo um “sua taradinha”. Sorrindo sensualmente ripostas “e tu? não queres sentir o meu odor corporal?”. Atraído pela ideia, fecho os olhos e chego a mão húmida ao nariz e um odor exalado, forte, doce, ameno e apetitoso, lentamente, volatiliza-me a sensibilidade. Com uma agressividade controlada empurras-me contra a porta, encostando-me e possuis-me a boca. Atinges em mim um transe uno e característico. Uma preguiça que me escorre, friamente, pelos semi-cerrados olhos. Peço-te que te encostes a mim. Os meus braços pendentes agora sobre ti. Assim ficamos horas e horas enquanto o dia desaparecia. A noite pulou sobre o dia. Hora de terminar. Perguntei se nos voltaríamos a ver ao que tu respondeste com um reconfortante e seguro “Sim! Claro!”. Longo e calminho beijo de despedida…

7 comentários:

Anónimo disse...

Bem lolol q grande dia q tiveste tou a ver =)
tu mereçes :D fico msm contente.. mto msm :)
quanto ao texto lol já sabes q adorei.. adoro aquilo q escrevessssss =))

*Lara*

Anónimo disse...

Está um texto bem simples a nível de escrita... mas muito envolvente, a cada linha dá vontade de ler a próxima, a forma como descreves, de uma forma ritualista os pequenos gestos do dia-a-dia.
Fiquei curiosa de ler os teus restantes textos.
Houve sem dúvida um pormenor que me fascinou no teu texto…
O facto de não ter havido sexo... tudo o que descreves dá a sensação de se estar perante uma cena assim, mas a verdade é que não.
Para ser sincera a primeira vez que li (uma leitura mais desatenta) deu-me a sensação de estar perante um acto de sexo, mas foi quando li esta frase “Por baixo da tua camisola, deslizo agora pela tua pele directa” que fiquei a pensar, mas espera, eles não estavam já despidos? Comecei a ler de novo com bastante mais atenção e de facto é fascinante como descreves todos os pormenores de uma forma tão intensa e sensual que parecia estarem a fazer amor. Alias… estavam mas de uma forma diferentes…
Gostei da importância que destes a esses carinhos e ousadias “simples”

Anónimo disse...

UHmmmmmmmmmmm lol
:P

Anónimo disse...

odeio te odeio te odeio te odeio te odeio te odeio te odeio te odeio te odeio te odeio te odeio te odeio te odeio te odeio te odeio te odeio te odeio te odeio te odeio te odeio te odeio te odeio te odeio te odeio te odeio te odeio te odeio te odeio te

Anónimo disse...

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Anónimo disse...

hehehhhe, quero ler as cenas dos próximos capitulos!!!! viste para os meus lados, foi? :P gostei, fico à espera de mais ;) ^Erina^

Anónimo disse...

epah.... isto e assim n te curto... mas escreves bem... e realmente este blog so prova a minha teoria (de k tu n regulas bem) e a tua... divides-te entre a doudeira e a genialidade... se nao pegasses tanto cmg tb te emprestava os meu poemas pa tu veres.... sim pk eu n sou a insensivel k tu pintas parvo :P
(so espero n me arrepender de te ter ca vindo dizer isto)
mad